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Índios acharam aeronave e guiaram equipes de resgate. Avião está submerso e 10 milhas fora da rota. Causa ainda não foi descoberta
Rio - Nove sobreviventes do avião C-98 Caravan, da Força Aérea Brasileira (FAB), que estava desaparecido desde a manhã de quinta-feira, na Amazônia, foram resgatados ontem pelo comando da Aeronáutica. Eles foram encontrados às margens do Rio Ituí por índios da tribo Matis, que avisaram à Funai de Atalaia do Norte. A tribo comunicou o fato à Força. Segundo a FAB, o piloto fez um pouso forçado no Igarapé Jacupará. Duas pessoas continuam desaparecidas: o suboficial da Aeronáutica Marcelo dos Santos Dias e o técnico da Funasa João de Abreu Filho.
Foto: O Rio Branco
Assustadas, vítimas são retiradas de ambulância em Cruzeiro do Sul para serem submetidas a exames
O avião partiu de Cruzeiro do Sul, no Acre, por volta das 8h30 de quinta-feira, e deveria ter pousado em Tabatinga (AM), a 1.108 km de Manaus, às 10h15. A aeronave transportava 11 pessoas, sendo quatro tripulantes e sete técnicos da Funasa, que haviam participado de campanha de vacinação do Ministério da Saúde em 40 aldeias indígenas da região do Vale do Javari, no Amazonas.
Os nove sobreviventes foram resgatados por uma aeronave C105 Amazonas, que decolou de Manaus (AM), com médicos e enfermeiros, além de 32 militares da equipe de resgate. O Salvaero, órgão da Força Aérea que coordena operações de busca e resgate no País, recebeu o sinal de emergência (ELT) emitido pela aeronave 58 minutos depois da decolagem. O sinal foi captado por satélite, mas não foi possível determinar as coordenadas.
Pouco depois, o avião submergiu e não foi captado nenhum outro sinal. O major-brigadeiro Jorge Cruz de Souza e Mello, comandante do 7º Comando Aéreo da Amazônia, informou em Manaus que o monomotor foi encontrado 10 milhas fora de sua rota.
Os nove sobreviventes foram transportadas para o Hospital Geral do Juruá, no Acre, onde passaram por avaliação médica. De acordo com o hospital, todos passam bem.
O Comando da Aeronáutica informou que as causas do acidente ainda não foram determinadas. Não há informações se houve falhas no motor. Para o secretário de Segurança de Voo do Sindicato dos Aeronautas, Carlos Camacho, uma das hipóteses para a queda da aeronave pode ter sido falha no motor, causada por contaminação no combustível por água ou fungos. “A manobra do piloto foi elogiável porque, nesses casos em que há perda de potência no motor, o correto é buscar água, uma clareira ou uma estrada para o pouso”, explicou.
Sobre os dois desaparecidos, Camacho informou que pode ter havido a desaceleração brusca da aeronave para o pouso forçado. “Se o passageiro não estiver com o cinto de segurança afivelado, pode ser arremessado longe”, destacou. De acordo com a Aeronáutica, os relatos dos passageiros sobre o acidente não são precisos. Eles devem voltar a ser ouvidos.
As circunstâncias do acidente serão investigadas por equipe do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes. Ainda não foi determinado o prazo para que o relatório final sobre a queda da aeronave seja entregue, pois a prioridade é encontrar os desaparecidos. No total, 125 pessoas e nove aeronaves estão envolvidos na operação.
Boa notícia após angústia e orações
A confirmação de que o avião tinha sido encontrado e de que a técnica da Funasa Marina de Almeida Lima, 62 anos, estava entre os nove sobreviventes terminou com mais de 20 horas de agonia de parentes e amigos, na cidade de Atalaia do Norte, no Amazonas. “Soubemos do acidente no início da tarde e foi uma agonia muito grande. Passamos o dia e noite rezando para que minha mãe estivesse bem. Por volta de 11h de hoje (ontem) recebemos a notícia de que o avião tinha sido encontrado e que ela estava viva. Foi uma alegria imensa”, disse, emocionada, Shirleia de Almeida Cardoso, 42 anos, filha de Marina.
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Pouco depois, segundo Shirleia, o outro filho de Marina, Marineu de Almeida, embarcou para Cruzeiro do Sul para encontrar a mãe. A família soube que ela e os outros sobreviventes praticamente não tiveram ferimentos. “Estamos aguardando que seja liberada e volte para casa. Vamos recebê-la com festa. Mas estamos abalados com o desaparecimento do oficial da Aeronáutica e do João (João de Abreu Filho, técnico da Funasa). Nossa família é católica. Vamos rezar para que sejam encontrados com vida”, disse Shirleia.
Uma das sobreviventes está grávida de três meses. Segundo informações do hospital, ela passa bem. A direção clínica do hospital informou que um homem e cinco mulheres passaram por baterias de exames na unidade. As outras três vítimas foram atendidas por médicos da FAB. Fábio Pimentel, diretor-clínico do hospital, afirmou que nenhuma das vítimas sofreu fraturas ou teve lesões sérias.
Tribo achou avião e avisou à Funai
Foi graças à ajuda de índios que o avião foi localizado na manhã de ontem. Os índios matis da Aldeia Aurélio encontraram a aeronave na noite de quinta-feira. A aldeia deles fica a cerca de duas horas do rio onde o avião fez o pouso forçado. Após retornarem à aldeia, ontem pela manhã, os índios contactaram a administração da Funai em Atalaia do Norte (AM) e informaram a localização do avião acidentado. Ontem à noite, os índios ajudavam nas buscas às duas vítimas desaparecidas.
A aeronave está submersa 5 metros de profundidade em um igarapé, distante 150 metros de onde estavam os sobreviventes. O trabalho de busca está sendo executado por equipes de resgate da FAB e do Exército Brasileiro, que contam com oito aeronaves entre helicópteros e aviões. Mergulhadores da FAB e lanchas da Marinha ajudam na localização.
Quando o primeiro helicóptero chegou ao local, não havia condições de pouso. Uma equipe médica desceu na frente para averiguar as condições das vítimas.
Exímios conhecedores da densa floresta do Alto Solimões, os índios matises sempre são requisitados por agentes do governo para guiá-los em expedições. A tribo entende como ninguém o labirinto de rios e igarapés. Todos os sobreviventes estavam próximos ao avião, às margens do igarapé, em bom estado de saúde. O resgate foi feito por meio de guinchos, em helicópteros.